6 de nov. de 2010

E de tantas possibilidades...

Gostaria muito de poder dizer o que sinto agora. Mas não, não é possível. Diante de um mundo preconceituoso, cheio de regras, todas por serem cumpridas, pois mesmo que existam, existem apenas nos conceitos e nunca, nunca praticadas, não há mais espaços para dizer o sentir.

O mundo é assim, sentimentos por serem ditos, e regras por serem cumpridas. O outro tornou-se mero objeto. O gostar, o amar não é como dizem seus conceitos. Aliás, não entendo para que tantos conceitos uma vez que são ignorados.

A fala suave, romântica e poética não é permitida e se realizada, ignorada. Mas a grosseria e a falta de consideração são permitidas e realizadas em larga escala. O homem, com letra minúscula mesmo, pois este não merece a maioridade, comportasse como um ser que anda visando apenas a si mesmo, é capaz de matar e atropelar toda e qualquer coisa que esteja “atrapalhando” seu “subir” na vida. Subir na própria “vida”. Perdeu a noção de tudo o que lhe poderia dar prazer. Perdeu a noção do viver.

O que mais me espanta ainda diante dessas atrocidades, pois para mim esta maneira de vida é desumana, é que o sofrimento vem do lado contrário. Pois é no sujeito de virtude que tudo isso surte efeitos desastrosos. Mas também é o ser de virtude que alcança seus sonhos, é o ser de virtude que faz de sua vida iluminada e nunca mais um degrau a subir. É o ser de virtude que fica em evidência, sendo alvo apenas de olhares avermelhados de raiva por seus próprios ‘amigos’. É o ser de virtude que consegue expressar seus pensamentos, enquanto que os outros ficam apenas espelhados nas promessas, tentando cumprir estas visando suas vidas. O ser de virtude encontra-se sempre só, pois não enxerga o interesse, enquanto que o ser, que ainda não consegui dar a ele um nome, vive rodeado de amigos. Claro que o ser de virtude possui ego, este também o faz bem, mas o ego do ser que almeja sempre a si mesmo transborda ainda mais, fazendo o afogar em seus próprios sucessos e insucessos.

Afogados em suas próprias vidas sem criatividade, pois fazem degraus de seus próprios amigos, surtam e sentem-se tristes quando conseguem o que quer, afinal, outro desejo vem a tona quando um é realizado. Isso acontece também no ser que não faz de sua vida uma escada, mas para o outro, a vitória é sem sabor, pois quem deveria os aplaudir foram deixados para trás quando eram apenas degraus. E que provavelmente não estarão apostos para apoiar na descida, e por isso que quem sobe não desce, pois até para descer é necessário a escora.

Márcia Alcântara
Primavera de 2010