30 de jul. de 2010

Quando um projeto de poetisa emudece...

Muitas vezes acontece do poeta simplesmente emudecer... Assim comigo por vezes acontece. Se eu sou poeta, risos? Talvez um projeto de poetisa misturada com a crítica dos antigos pensadores... E agora me emudeci... motivo não há, já faz parte da minha rotina.
Mas, existem versos, que ainda possam dizer por mim, dizer em substantivos e adjetivos que não partem do meu eu... Não pude dizer, não tive como dizer, mas alguém disse por mim.

Triste destino!

Quando as vezes o mar soluça tristemente
A praia abre-lhe os braços e deixa-o gemer;
Embala-o com amor, de leve, docemente,
E canta-lhe cantigas pra adormecer!

Quando o outono leva a folha rendilhada,
O vestido real da branda primavera,
O rio abre-lhe os braços e leva amortalhada,
A pequenina folha, essa ideal quimera!

O sol agonizante e quase moribundo,
Estende os braços nus, alegre, para o mundo
Que o faz amortalhar em púrpura lenda!

O sol, a folha, o mar tudo é feliz! Mas eu
Busco a mortalha minha até no alto do céu!
E nem a cruz pra mim tem braços q m’estenda!

08/07/1916 – Florbela Espanca.