Mas, existem versos, que ainda possam dizer por mim, dizer em substantivos e adjetivos que não partem do meu eu... Não pude dizer, não tive como dizer, mas alguém disse por mim.
Triste destino!
Quando as vezes o mar soluça tristemente
A praia abre-lhe os braços e deixa-o gemer;
Embala-o com amor, de leve, docemente,
E canta-lhe cantigas pra adormecer!
Quando o outono leva a folha rendilhada,
O vestido real da branda primavera,
O rio abre-lhe os braços e leva amortalhada,
A pequenina folha, essa ideal quimera!
O sol agonizante e quase moribundo,
Estende os braços nus, alegre, para o mundo
Que o faz amortalhar em púrpura lenda!
O sol, a folha, o mar tudo é feliz! Mas eu
Busco a mortalha minha até no alto do céu!
E nem a cruz pra mim tem braços q m’estenda!
08/07/1916 – Florbela Espanca.